20.6.09

CÍCERO DIAS



- Tais Luso de Carvalho 

Cícero nasceu no Engenho Jundiá, em Pernambuco no ano de 1908. Sua pintura é sentida, e como se fossem as escalas da música nordestina; vibrante e popular, como era a princípio. Cícero dizia que lia poesias para pintar como se fosse um poeta, em ondas simbólicas, quase oníricas.
Saiu de Recife em 1920, rumo ao Rio de Janeiro, onde estudou na Academia de Belas Artes por uma curta temporada e, ainda no Rio fez sua primeira exposição individual.

Em 1928 fez sua primeira exposição no Brasil, num congresso psiquiátrico dentro de um hospício. E lá ouve o primeiro tumulto e revolta dos ‘conservadores’ contra a obra de Cícero.

Em 1929 voltou ao Recife onde apresentou sua obra e causou outro escândalo, como já havia acontecido no Rio de Janeiro. Era um artista de espírito inquieto, gostava de propostas inovadoras. Sua pintura não era aceita nos centros desenvolvidos, entrava em choque com o espírito acadêmico.

Em 1931, no Salão Revolucionário, organizado por Lúcio Costa, apresentou o painel ‘Eu vi o mundo, ele começa no Recife’ - painel de 13 metros de comprimento por 2 de altura - que causou um alvoroço a ponto de ser depredada.

Em 1937 foi morar em Paris e lá ficou por toda sua vida. Tornou-se amigo de Picasso, Bréton e Éluard e entrou em contato com o surrealismo.

Suas pinturas e desenhos são muito marcados pelas mulheres, que aparecem sempre como foco de desejo, frustração, conflito, humor, ironia. Vê-se, também, o menino criado no engenho, com banhos e brincadeiras. A presença da lavoura, do cangaço, das enchentes, escolas, professoras, colegas, casinhas e charretes também fazem parte do mundo pictórico do artista.

Segundo um crítico, suas imagens eram soltas e mal trabalhadas, beirando desenhos infantis. Muitos não entendiam o trabalho de Cícero, e violentas investidas contra suas obras aconteciam. Um ‘senhor’ que comprovadamente não gostou deles, tentou destruí-los com uma navalha.

Em 1940, na Segunda Guerra Mundial, tornou-se prisioneiro dos alemães, foi internado em Baden-Baden e, posteriormente, trocado por prisioneiros. Assim que conseguiu sua libertação, tratou de viajar para Portugal, onde ficou até o fim do conflito.

Em 1945, voltou à Paris onde trabalhou até o fim de seus dias. Aos poucos foi modificando sua maneira de pintar, apurando os traços, deixando o desenho infantil, buscando o aperfeiçoamento das cores, do traçado e deixando os temas regionais e a pintura popular dos anos 40. Sua característica forte, então, são os tons vibrantes.

Daí foi um salto para que seu trabalho ficasse conhecido, através de exposições, na Itália, Dinamarca, Suécia, Finlândia, Bélgica e Brasil.

Primeira fase aparecem as Aquarelas/óleos – 1927/1937
Segunda fase: Figuração/Abstração (1938-1960)
Terceira fase: Mulher símbolo Constante (1961 – 2000)

Ilustrou, em 1933, Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre; em 1948, finalizou o mural do da Secretaria das Finanças do Estado de Pernambuco, considerado o primeiro trabalho abstrato do gênero na América Latina; em 1991 inaugurou o painel de 20 metros, na Estação Brigadeiro do Metrô, em São Paulo. Em 1997 mostrou, no Rio de Janeiro, através da Casa França-Brasil, uma retrospectiva de sua obra, um trabalho brilhante e emblemático. E, em 1998 recebeu do governo francês a Ordem Nacional do Mérito da França. Morreu no ano de 2003, em Paris, aos 95 anos.




14.6.09

MANTEGNA


O Cristo Morto
- tais luso de carvalho


Andrea Mantegna nasceu muito pobre, numa vila perto de Vicenza, Isola di Carturo, norte da Itália, no ano de 1431.
Aos 17 anos deu uma indicação madura de sua personalidade levando o padrasto aos tribunais forçando-lhe em reconhecer sua independência. Aprendeu a pintura com um artista medíocre, desvinculando-se pouco depois.
Seu estilo sofreu muito pouco no decorrer de mais de 50 anos de atividade artística.

Casou-se com a irmã do grande Giovanni Bellini, e teve, então, as portas abertas no mundo das artes e logo foi convidado a decorar as igrejas, uma delas, a Capela Ovetari, em Pádua, não restando quase nada devido à Segunda Guerra Mundial.

A renovação da arte na Itália setetrional, foi criada por Donatello, Lippi, Andréa Del Castagno e Alberti, mas foi com Mantegna ( Mântua) e Giovanni, Bellini (Veneza), que se solidificou.

Em 1460 foi nomeado pintor da corte do marquês Ludovico Gonzaga, em Mântua, e lá permaneceu o resto da vida. Mantegna retratou a família e a corte dos Gonzaga, representada em várias cenas palacianas, preenchendo as paredes com medalhões e bustos, salientando que a família reinante era digna do império romano. A característica mais notável dos ambientes, é a representação ilusionista, que parece ampliar o espaço. Essa pintura de Mantegna serviu de 'fundação' para muitas pinturas decorativas posteriores.

Cristo in Scurto foi pintado por volta de 1470, quando Mantegna estava envolvido com a perspectiva, mas manteve esta obra em seu atelier com a intenção de mantê-la destinada ao seu próprio sepulcro. Seu desenho se prendia à minúcias e notava-se grande sentimentalismo.

Sua maior característica era a clareza de concepção, cor, iluminação, formas e uma maestria pela perspectiva e pelo 'escorço' - desenho ou pintura que representa objeto de três dimensões em forma reduzida ou encurtada, segundo as regras da perspectiva. A perspectiva ilusionista converteu-se no protótipo do 'tromp l'oeil', usada mais tarde no barroco e no rococó.

Ao ser convidado pelo Papa Inocêncio VIII, para trabalhar em Roma, entra em crise ao perceber que a capital dos Cristãos havia se transformado num centro de luxúria e vulgaridade. Seus trabalhos contam episódios pagãos, deixando transparecer um suposto afastamento da fé que até então seguira.
Deixou uma obra com concepções requintadas e amadurecidas.

Faleceu em 1506.

Retábulo de São Zeno


Câmera degli Sposi / Palácio ducal - afresco

2.6.09

PEDRO ESCOSTEGUY / Obra de Vanguarda

Perigo Radioativo / P. Escosteguy


Pedro Geraldo Escosteguy nasceu em Santana do Livramento – RS/Brasil, no ano de 1916. Em 1938, já morando em Porto Alegre, concluiu o curso da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul.

Especializou-se em Gastroenterologia, inovou técnicas cirúrgicas, implantou e desenvolveu serviços sociais, publicou vários livros científicos e lecionou em cursos de aperfeiçoamento. Exerceu a profissão de médico por 42 anos, e sempre voltado para as questões sociais e políticas.

Paralelamente iniciou-se na poesia, migrou para o conto, ingressou nas artes plásticas. Criou uma obra própria de cunho vanguardista, veiculando através das palavras, pensamentos e imagens uma interação entre a sensibilidade e a necessidade de um posicionamento crítico.

O modernismo conscientizou e procurou trabalhar a tensão entre a produção de arte no Brasil e a sua ligação com a produção européia. Mas não era suficiente uma arte que fosse só brasileira e moderna; ela deveria ser também social, vinculada aos problemas do povo e destinada a ele.

Então surgiu um grupo de intelectuais e artistas que planejavam criar uma arte brasileira, atingindo os elementos pictóricos capazes de elaborar imagens cujo ineditismo fosse resultado da sua identidade com a cultura nacional.

É importante lembrar que por ocasião da mudança de Escosteguy para o Rio de Janeiro, e do relacionamento pessoal com Antônio Dias - seu genro na época -, Escosteguy estreitou sua convivência com Hélio Oiticica, Carlos Vergara, Roberto Magalhães, Antônio Maia, Ruben Gerchman, Ângelo de Aquino e Lígia Clark, com quem se encontrava em salões, eventos, mostras e bienais, possibilitando importantes correntes e reflexões conjuntas ao discutir as correntes da arte contemporânea do pós-guerra.

Pedro Escosteguy trouxe uma valiosa contribuição teórica e prática para o desenvolvimento da vanguarda carioca que se articulou a partir de ‘Opinião 65’. Forneceu o apoio teórico e intelectual ao quarteto neo-realista: Antônio Dias, Ruben Gerchman, Carlos Vergara e Roberto Magalhães.

Pedro Escosteguy iniciou, pois, como neo-realista e concretista, um processo vanguardista que finalizou na Nova Objetividade Brasileira, participando dos significativos movimentos de vanguarda de sua época.

Sua obra denunciava o temor que rondava a geração pós-bomba atômica, com seus valores em decomposição diante da própria existência Sua preocupação era em ‘dizer’, por isso procurou caminhos mais sólidos, não se preocupando com a estética, puramente.

Encontrou, através de sua obra e de sua poética vanguardista, um espaço para opinar sobre a arte e a política, assumindo uma semântica social voltada para a natureza urbana imediata, contra o regime militar e ditatorial, através da palavra ou da frase, em busca de associações rápidas por parte do espectador.

O artista procurou técnicas e efeitos, utilizou os mais diversos materiais disponíveis em seu tempo, com o intuito de causar sensações no espectador não apenas através da visão como também do tato. Empregou o acrílico, a madeira, as resinas, fibras, tecidos, tinta acrílica, colas. Cria obras com profundidade e relevo.

Escosteguy conseguiu passar sua inquietação e marcou seu lugar como um dos principais artistas da vanguarda brasileira. Seu amor à arte, suas convicções, sua generosidade para com os seus semelhantes e sua personalidade cativante e forte não passaram despercebidos àqueles que tiveram o privilégio de compartilhar de seus ensinamentos e de sua vida. E eu tive, pelos laços de parentesco que nos unia.


Foi casado com Marília Tavares Utinguassú e tiveram duas filhas, Norma e Solange.

Até seu falecimento, no ano de 1989 - já de volta à Porto Alegre -, foi um criador compulsivo, na poesia e nas artes plásticas.


Mais sobre Pedro Escosteguy, ver nesse espaço aqui.


'Minhas construções de madeira se assentam numa semântica social onde revelo a perplexidade geral ante a corrida belicista. 
Em sua execução, mobilizo uma semântica acessível aos meus próprios conhecimentos e possibilidades, auxiliada com o uso da palavra ou da frase, em busca de associações rápidas.' 


Jogo (Roleta) 
XIII Salão de Arte Moderna, Rio de Janeiro - 1964



   Corpo Estranho 1965 / VII Bienal São Paulo

Neo-realismo carioca 

Cartaz / XVI S. Nacional Arte Moderna RJ - 1967


Psicodrama / 1965 - VII Bienal de São Paulo



Seven Days Milan / 1970


Estória / O fim da Idade do Chumbo - Museu Arte Moderna RJ 1965


 Fontes: 
Escosteguy, Pedro Geraldo: poéticas visuais / Pedro Geraldo Escosteguy - Porto Alegre:
Ed. por Suzana Gastal, Ana Maria Albani de Carvalho e Soraya P. Rossi Bragança, 2003